segunda-feira, 8 de julho de 2013

PEREGRINAR

A. Verbo:
gûr (rwG): “morar como peregrino, residir temporariamente, estada curta”. Este verbo só aparece no semítico do noroeste e, fora do hebraico, só como substantivo. No hebraico bíblico o verbo gûr ocorre 84 vezes e em todos os períodos do idioma. Este sentido de gûr deve ser distinguido daquele que significa “ter medo de” (Nm 22.3).

 
Este verbo quer dizer “morar numa terra como peregrino”. A primeira ocorrência da palavra está em Gn 12.10, onde somos informados que Abrão viajou ao Egito e morou ali como peregrino. Em Gn 21.23, Abraão faz um concerto com Abimeleque, dizendo: “Segundo a beneficência que te fiz, me farás a mim e a terra onde peregrinaste”.

 
B. Substantivo:
ger (rG): “peregrino, estranho, estrangeiro”. O termo ger ocorre em torno de 92 vezes e em todos os períodos do hebraico bíblico. Um “peregrino" não era tão-somente um estrangeiro (nãkrí) ou um estranho (zãr). Ele era um residente permanente, outrora cidadão de outra terra, que se mudara para sua nova residência. Era comum ele sair de sua terra natal debaixo de aflição, como quando Moisés fugiu para Midiã (Êx 2.22). Quer a razão da jornada fosse para fugir de alguma dificuldade ou meramente para procurar um novo lugar para morar, o peregrino era aquele que buscava aceitação e refúgio. Por conseguinte, ele também poderia se chamar tôsãb, um colono. Nem o colono nem o “peregrino” possuía a terra. Na terra de Canaã, a possessão da terra era limitada aos membros ou descendentes dos membros tribais originais. Somente eles eram cidadãos plenos que desfrutavam todos os direitos de cidadão, o que significava compartilhar inteiramente da herança dos deuses e antepassados — os privilégios e responsabilidades feudais (cf. Ez. 47.22).

 
Em Israel, o ger, como o sacerdote, não podia possuir terra e desfrutar os privilégios especiais do terceiro dízimo. Todo terceiro ano, o dízimo da colheita era depositado à porta da cidade com os anciões e distribuído entre “o levita (pois nem parte nem herança tem contigo), e o estrangeiro, e o órfão, e a viúva, que estão dentro das tuas portas” (Dt 14.29). Nos últimos dias, tais “peregrinos” serão tratados como cidadãos plenos: “Será, porém, que a sorteareis [a terra] para vossa herança e para a dos estrangeiros que peregrinam no meio de vós. que geraram filhos no meio de vós; e vos serão como naturais entre os filhos de Israel; convosco entrarão em herança, no meio das tribos de Israel” (Ez 47.22). Sob a lei mosaica, os estrangeiros não eram escravos, mas em geral estavam a serviço de algum israelita sob cuja proteção eles viviam (Dt 24.14). Nem sempre era este o caso. Às vezes, o “peregrino" era rico e o israelita é que estava a seu serviço (Lv 25.47).

 
O ger devia ser tratado (com exceção dos privilégios e responsabilidades feudais) como israelita, sendo responsável e protegido pela lei: “E, no mesmo tempo, mandei a vossos juízes, dizendo: Ouvi a causa entre vossos irmãos e julgai justamente entre o homem e seu irmão e entre o estrangeiro que está com ele" (Dt 1.16); "Porém vós guardareis os meus estatutos e os meus juízos, e nenhuma dessas abominações fareis nem o natural, nem o estrangeiro que peregrina entre vós” (Lv 18.26); “Uma mesma lei tereis: assim será o estrangeiro como o natural; pois eu sou o SENHOR, vosso Deus" (Lv 24.22). O ger também gozava do descanso sabático (Lv 25.6) e da proteção divina (Dt 10.18). Deus ordenou a Israel que amasse o “peregrino” como a ele mesmo (Lv 19.34).

 
O ger também podia ser circuncidado (Ex 12.48) e desfrutar todos os privilégios da religião verdadeira: a Páscoa (Êx 12.48.49), a festa anual da expiação (Lv 16.29), a presentar ofertas (Lv 17.8) e participar de todas as festas (Dt 16.11). Ele também era obrigado a guardar as leis da pureza (Lv 17.15).

 
É dito a Israel que Deus é o verdadeiro dono de toda a terra e o Seu povo é senão o “peregrino” que lhe deve obediência feudal (Lv 19.34; Dt 10.19). Os israelitas são advertidos a tratar o peregrino com justiça, retidão e amor, porque, como Abraão (Gn 23.4), eles foram "peregrinos” no Egito (Êx 22.21). Em casos legais, o “peregrino” podia apelar diretamente a Deus, o grande Senhor feudal (Lv 24.22).

 
Dois outros substantivos relacionados a gûr são m’gûrîm e gerût. O termo m’gûrîm ocorre 11 vezes e diz respeito ao “estado ou condição de ser peregrino” (Gn 17.8) e a uma “habitação onde se é peregrino” (Jó 18.19). O termo gerût aparece uma vez e se refere a um “lugar onde os peregrinos moram” (Jr 41.17). Alguns estudiosos pensam que esta palavra é um nome próprio, a parte de um nome de lugar.

Vine, Dicionário – Antigo e Novo Testamento, pág. 228